09/09/2011

Copom vê cena externa pior e indica mais corte nos juros

SÃO PAULO, 8 de setembro (Reuters) - Ao afirmar que o cenário internacional apresentou "substancial deterioração" recentemente, o Comitê de Política Monetária (Copom) deixou claro nesta quinta-feira (8) que vê sinais mais "favoráveis" para a inflação no Brasil. Diante disso, os agentes econômicos já começam a projetar mais cortes na Selic.

"O comitê avalia que o cenário internacional manifesta viés desinflacionário no horizonte relevante", afirmou o Copom na ata de sua última reunião, realizada na semana passada.

O documento ressaltou que outras medidas tomadas no país, como restrições ao crédito de longo prazo anunciadas em dezembro, também ajudaram. "O processo de moderação em que se encontra a economia é uma decorrência das ações de política implementadas desde o final do ano passado e tende a ser potencializado pela fragilidade da economia global.

"No último dia 31, o Copom surpreendeu o mercado ao reduzir a Selic em 0,50 ponto percentual, para 12% ao ano, interrompendo um ciclo de cinco altas seguidas. Boa parte do mercado esperava que a autoridade monetária manteria a taxa básica de juros em 12,50%.

O movimento do BC, segundo uma fonte oficial, foi decidido também para mostrar que houve um "ponto de inflexão" da política monetária, com busca de patamares menores para a taxa.

Apesar da piora significativa no cenário externo verificada pelo Copom, a ata trouxe também que, em um cenário alternativo, as atuais turbulências poderiam causar um impacto na economia brasileira "equivalente a um quarto do impacto observado durante a crise internacional de 2008/2009".

Por outro lado, o Copom reconheceu que a atual deterioração do cenário internacional será mais persistente do que a vista em 2008 e 2009, "porém, menos aguda".

Parte do mercado avaliou que a ata do Copom veio menos "dovish" (jargão que indica política monetária mais branda) do que se poderia esperar após a surpreendente decisão da semana passada. Ainda assim, analistas já começavam a rever suas projeções para os próximos passos da autoridade monetária.

O banco Barclays Capital, por meio de relatório, mudou suas estimativas para a Selic, esperando agora mais dois cortes de 0,50 ponto percentual nas reuniões de outubro e dezembro, o que faria a Selic encerrar 2011 a 11% ao ano. "Nós mantemos nossa visão de que o Copom continuará muito dependente dos próximos indicadores."

A CM Capital, por sua vez, prevê mais três cortes de 0,50% na Selic, chegando em janeiro a 10,50% ao ano. A corretora ressaltou, no entanto, que caso o cenário mais pessimista traçado pelo BC não se concretize, a autoridade monetária poderia ter de voltar a subir os juros a partir de julho de 2012.

Como já fizera no comunicado que anunciou o corte de 0,5 ponto na semana passada, a autoridade monetária voltou a informar que a transmissão do ambiente externo pode se materializar por diversos canais, como moderação do fluxo de investimento, condições de crédito mais restritivas e na piora no sentimento de consumidores e empresários.
INFLAÇÃO EM QUEDA EM 2012

O Copom argumentou ainda que neste trimestre termina o ciclo de elevação da inflação acumulada em 12 meses e que, a partir do quarto trimestre, o cenário indica tendência declinante. "Ou seja, passa a se deslocar na direção da trajetória de metas (em 2012)", referência que voltou a fazer nesta ata sobre a meta oficial de 4,5% pelo IPCA, com margem de 2 pontos percentuais para mais ou menos.

As projeções de inflação para o próximo ano, tanto no cenário de referência quanto de mercado, foram reduzidas agora, "posicionando-se ao redor do centro da meta". Na ata anterior, de julho, a autoridade monetária as colocava acima do centro da meta.

Já para o primeiro semestre de 2013, a estimativa de inflação recuou no cenário de referência e ficou estável no cenário de mercado, nos dois casos posicionando-se ao redor do valor central da meta.

O Copom informou ainda que, de maneira unânime, reconheceu que o ambiente macroeconômico mudou "substancialmente" desde sua reunião de julho, mas dois dos sete membros do comitê avaliaram que o momento atual ainda não oferece todas as condições necessárias para que a Selic fosse reduzida.

Esses dois membros votaram pela manutenção da taxa, enquanto que os demais, pelo corte de 0,50 ponto percentual.
AJUDA FISCAL

O fato de o Copom ter voltado a citar o reforço fiscal anunciado pelo governo como um fator no combate à inflação, foi visto por analistas como outro indício de um afrouxamento maior da política monetária.

"Sobre a inflação, no geral, ele (Copom) fala de economia acomodando, moderação do mercado de crédito, o reforço no lado fiscal, isso aponta para mais cortes de juros", disse o economista sênior do Espírito Santo Investment Bank, Flávio Serrano.

"Achamos que serão de 0,50 ponto", acrescentou, ressaltando que "o ciclo total ainda é difícil prever".

Dois dias antes de o Copom cortar o juro, o governo anunciou que estava elevando em R$ 10 bilhões a meta de superávit primário deste ano, para evitar mais gastos, numa clara ação para ajudar a sustentar quedas na Selic.

Na ata, o Copom afirma que considera o cumprimento da nova meta de superávit primário, cerca de 3,15% do Produto Interno Bruto (PIB), sem ajustes, em 2011. Além disso, admitiu como hipótese de trabalho uma economia para pagamento de juros em torno de 3,10% do PIB em 2012 e em 2013, sem ajustes.

O BC também manteve a projeção de reajuste no preço da gasolina em 2011 em 4%, enquanto que os preços do gás de bujão, para o acumulado de 2011, foram mantidos estáveis.

Fonte: Uol

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