22/09/2011

Investidores fogem de fundos de ações e multimercados

 

Autor(es): Antonio Perez | De São Paulo

Valor Econômico - 22/09/2011

 

 

A novela da crise das dívidas soberanas na Europa e a falta de fôlego da economia americana levam os investidores a fugir dos fundos de investimento de perfil mais arriscado este mês. As pessoas físicas, por exemplo, deram de ombros para a alta de 2,57% do Índice Bovespa na semana passada e sacaram R$ 173,36 milhões das carteiras de ações no período, apontam dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).

Com os resgates da semana passada, as saídas líquidas dos fundos de ações em setembro (até o dia 16) atingiram R$ 220,3 milhões, período em que o Ibovespa subiu 1,27%. No acumulado do ano, os saques dessas carteiras já somam R$ 1,022 bilhão.

Os investidores também batem em retirada dos fundos multimercados, apesar da boa rentabilidade das carteiras em agosto e neste mês. Na semana passada, os multimercados amargaram resgates líquidos de R$ 1,498 bilhão, levando os saques em setembro a R$ 4,308 bilhões até o dia 16.

Das seis estratégias de multimercados acompanhadas pela Anbima, cinco delas obtêm este mês rentabilidade média superior à variação do Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI, juro interbancário) no período, de 0,49%. Destaque absoluto para as carteiras macro - que apostam nas tendências de ativos como câmbio, juros e ações segundo análises macroeconômicas -, com ganho de 2,58% no mês. As carteiras multimercados macro só perdem em rentabilidade para os fundos cambiais, com ganhos de 7,96% em setembro até o dia 16, na esteira de uma valorização de 7,88% do dólar ante o real no período.

Com as incertezas no cenário externo, os investidores continuam diminuindo o risco de suas carteiras e correndo para renda fixa, afirma Bruno Lembi, sócio da M2 Investimentos, escritório de aconselhamento financeiro. "Mas eu acho que o cenário deve mudar daqui para frente com a queda dos juros no Brasil", diz Lembi, que acredita em, pelo menos, mais dois cortes de 0,50 ponto porcentual da Selic este ano, para 11% ao ano. "Se a crise lá fora for mais aguda, os juros devem cair ainda mais."

Com Selic em queda e inflação no nível atual, o juro real tende a ficar cada vez menor. Com isso, o investidor deve se sentir estimulado a arriscar em busca de mais rentabilidade. "A relação risco versus retorno da bolsa mudou, e as ações ficam cada vez mais atraentes, já que, além do potencial de valorização, há os dividendos", afirma. "Para quem pensa no médio e longo prazos, é o momento de comprar."

No curto prazo, o mercado tende a continuar volátil, oscilando ao sabor das perspectivas para o crescimento mundial e para o desenlace da crise das dívidas soberanas na Europa. Por isso, o investidor deve ser cuidadoso na escolha dos papéis e evitar compras em grandes volumes. "O recomendável é manter uma parte do dinheiro em caixa para poder aproveitar quedas do mercado provocadas por aversão ao risco", diz Lembi.

Seja qual for o desfecho da crise na Europa e do grau de recuperação dos Estados Unidos, Lembi ressalta que o desempenho da economia brasileira, e dos emergentes em geral, será superior à performance dos desenvolvidos. Isso tende a atrair dinheiro para o Brasil no médio prazo. "E com essa alta do dólar, a bolsa fica cada vez mais barata para o estrangeiro", afirma.

As saídas de recursos dos fundos mais arriscados foram mais do que compensadas pelas entradas de dinheiro nas carteiras conservadoras. Apenas os fundos de renda fixa captaram R$ 5,858 bilhões na semana passada. No mesmo período, os curto prazo atraíram R$ 2,118 bilhões, e os referenciados DI, R$ 681,97 milhões.

Ao todo, o setor de fundos recebeu R$ 5,707 bilhões na semana passada, levando a captação líquida no mês a R$ 6,862 bilhões. Em 2011, até o dia 16, o setor já amealhou R$ 75,598 bilhões, com liderança absoluta dos fundos da categoria renda fixa, cuja captação soma R$ 59,95 bilhões. O patrimônio líquido total doméstico do setor de fundos (sem contar as carteiras offshore) soma R$ 1,813 bilhão.

 

 

 

 

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