02/09/2011

Selic menor é boa para bolsa até a página 2

Por Daniele Camba

Era de se esperar: a surpreendente queda da Selic em meio ponto porcentual soou como música aos ouvidos dos investidores da bolsa. O Índice Bovespa chegou a subir 3,7% e fechou em alta de 2,87%, aos 58.118 pontos. Essa é a maior pontuação desde 1º de agosto.

A bolsa seguiu exatamente o script das cartilhas econômicas: juros mais baixos beneficiam a renda variável. Essa máxima, no entanto, vale até a página 2, especialmente neste momento de cenário internacional turbulento.

Para os analistas ouvidos pelo Valor, o destino do mercado depende de qual será a justificativa do Banco Central para ter sido tão ousado no afrouxamento monetário. Existem algumas respostas no radar. A maioria delas não é nada boa para a economia em si e, consequentemente, para ações.

Os motivos para a ousadia do Copom não devem ser bons

"Sem dúvida, a ata dessa reunião do Copom é a mais aguardada dos últimos tempos, já que deve dar bons sinais do real motivo para esse corte", diz o estrategista de investimentos pessoais da Santander Asset Management, Aquiles Mosca.

A ata pode sinalizar, por exemplo, que o BC cortou juros porque viu que a crise internacional é bem pior do que se imagina. Apesar de vários analistas duvidarem dessa tese, se essa for a resposta, dificilmente a bolsa continuará o movimento de valorização.

A chefe de análise da Fator Corretora, Lika Takahashi, está entre os que acreditam que o cenário internacional é bastante ruim, portanto, o BC pode estar certo. "O Banco Central no mínimo merece o benefício da dúvida, já que a preocupação com o cenário externo me parece muito pertinente", diz Lika.

Apesar dos indicadores da economia americana ainda serem contraditórios, a chefe de análise da Fator acredita que a desaceleração pode ser tamanha que, na prática, vai parecer mais uma recessão.

Na visão de Lika, a crise de 2008 ainda tende a ser pior que a atual, mas agora existem novos agravantes. "Os governos, por exemplo, já gastaram tudo o que tinham para salvar as economias; um novo pacote de recompra dos títulos americanos ('QE3') deve ser a última bala na agulha."

Uma outra resposta para o corte da Selic pode ser um enfraquecimento da economia brasileira mais forte do que se previa. Assim como a crise internacional, isso não deixaria a bolsa passar ilesa.

A divulgação do PIB do segundo trimestre hoje vai mostrar se o Copom tinha razão na dose de cautela. "Se o PIB vier em linha com o esperado, e não muito abaixo, o BC pode perder o seu álibi técnico, o que deve provocar o primeiro estresse no mercado", diz o diretor de investimentos da Fundação Cesp, Jorge Simino.

Um segundo momento de estresse, para Simino, deve ocorrer se os números começarem a mostrar uma alta dos preços a ponto de comprometer o cumprimento da meta de inflação em 2013.

Daniele Camba é repórter de Investimentos

E-mail daniele.camba@valor.com.br

 

 

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