05/09/2011

Uma semana decisiva para o destino da bolsa

Por Daniele Camba

Depois de um período bastante negativo, a semana passada trouxe muito alívio aos investidores da bolsa. O Índice Bovespa fechou a sexta-feira com alta acumulada na semana de 5,96%. Já esta semana, apesar de espremida por dois feriados (hoje nos Estados Unidos e quarta-feira no Brasil), promete ser decisiva para o destino da bolsa. Será possível ter no mínimo boas pistas se a recuperação dos últimos pregões veio para ficar ou se foi apenas chuva de verão.

O mercado espera encontrar nos acontecimentos desta semana alguma explicação para a ousadia do Banco Central de cortar a taxa Selic em meio ponto percentual numa tacada só, na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), deixando 99,9% dos analistas e investidores surpresos.

No Boletim Focus (relatório que reúne as projeções das instituições financeiras para os principais indicadores macroeconômicos locais) de hoje, por exemplo, são grandes as expectativas de que os bancos já tenham revisado para cima as suas projeções de inflação, especialmente para 2012.

Mercado vai ler com lupa a ata do Copom, na quinta-feira

É o caso da MB Associados, que elevou a previsão para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para 2012 de 5,3% para 5,7%. A piora nas projeções de inflação contidas no Focus já devem ser os primeiros reflexos da queda de meio ponto da Selic.

Na terça-feira, será a vez da divulgação do IPCA de agosto. A expectativa é de uma alta entre 0,32% e 0,35%. Na visão do diretor de investimentos da Fundação Cesp, Jorge Simino, qualquer número acima disso deve dificultar a vida do Banco Central para justificar uma queda repentina dos juros, sem prejudicar ainda mais o comportamento da inflação.

O ponto alto desta semana mais curta deve ocorrer na quinta-feira, com a divulgação da ata referente à última reunião do Copom. Muito mais do que em outras atas, nesta o mercado vai analisar com lupa cada palavra, com o intuito de buscar a resposta final para o arroubo de ousadia do BC na queda da Selic. Dependendo do que se encontrar no texto, a bolsa pode engatar ou abandonar de vez a valorização da semana passada.

Para Simino, da Fundação Cesp, depois da divulgação, na sexta-feira, do PIB do segundo trimestre em linha com as expectativas, a trajetória da inflação será o próximo teste de credibilidade do BC.

"Qualquer aumento no IPCA de agora pode fazer com que não se cumpra o centro da meta de 4,5% nem em 2013, diz Simino. Ele faz um exercício: se o IPCA no último trimestre for de 0,45% ao mês, isso significa um IPCA de 6,30% no ano, caindo para 5,54% em 2012, tornando "crível" os 4,5% em 2013. Já se o índice for de 0,55% ao mês no quarto trimestre, será de 6,5% no ano, subindo para 6,80% em 2012, ficando bem longe dos 4,5% para o ano seguinte.

Para Simino, o corte de meio ponto só faz sentido se o governo tiver informações suficientes de que a crise internacional é mais grave do que se vê até agora. No entanto, faz um alerta: "se o mundo for acabar, é melhor acabar logo, do contrário, o BC ficará numa saia justa com o mercado", completa.

Daniele Camba é repórter de Investimentos

 

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