05/09/2011

Batalha entre mercado e BC tem novo round

Por Eduardo Campos

Por enquanto, a queda de braço entre Banco Central (BC) e mercado (parte dele para não ser injusto) está empatada em um a um. O que está e continuará em "disputa" são as divergências envolvendo a prospecção de cenários para economia doméstica e internacional.

A contenda é a seguinte: o BC vê uma degradação de quadro externo a ponto de bater firme na atividade local e levar a inflação para baixo.

Os agentes de mercado não descartam tal possibilidade, só não acreditam que uma deterioração de cena internacional de tamanha magnitude seja fato consumado (ao menor por ora).

O Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre mostrou crescimento de 0,8% sobre o trimestre anterior, resultado em linha com o previsto. Com isso perde um pouco de força a tese de desaceleração mais forte da atividade local antes mesmo do agravamento das condições externas.

Dados da semana alimentam disputa de cenários

Por outro lado, a economia americana emitiu mais um sinal que sustenta a visão do BC com relação à conjuntura internacional. Em agosto não foram criados novos empregos.

A semana que começa reserva mais indicadores que podem alimentar tal "disputa". Amanhã sai o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para o mês de agosto, para o qual a Máxima Asset prevê inflação de 0,35%, contra 0,16% em julho. Confirmado tal número, a inflação oficial em 12 meses sobe a 7,20%.

Ainda na agenda local, o IGP-DI de agosto, a primeira prévia IGP-M e os indicadores industriais da CNI.

No campo externo são aguardados o índice de atividade no setor de serviços nos Estados Unidos, o Livro Bege, as decisões de política monetária na zona do euro e Reino Unido e a bateria de dados da economia chinesa (inflação, indústria e varejo). Estudo recente do Nomura Securities mostrou que o crescimento da China é quase três vezes mais importante do que o que acontece nos EUA quando se pensa no desempenho da economia brasileira. A Europa, por sua vez, não mostrou relação estatística significativa com o PIB do Brasil.

Independentemente desse embate de visões e passada a surpresa e os protestos sobre a decisão do Copom, os agentes tentam entender e se ajustar ao que parece ser uma nova "função reação" de política monetária.

A ata da reunião, que sai na quinta-feira, pode ajudar nisso. O documento traz indicações mais claras sobre o que o colegiado está vendo adiante, bem como em que pé estão as estimativas de inflação para 2011, 2012 e começo de 2013. Números mais detalhados apenas no Relatório de Inflação que deve sair no fim do mês.

De volta à sexta-feira, a moeda americana teve novo pregão de firme valorização. O dólar comercial subiu 1,17%, a R$ 1,636 na venda, maior cotação desde o fim de março. O ganho na semana ficou em 1,93%.

Nas mesas, a percepção é de "cara nova" no câmbio.

A avaliação é de que o real perde atratividade em função do ambiente de queda de juros aliado às restrições às posições vendidas e ameaças de novas intervenções do governo.

Fazendo um contraponto, o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, diz que ainda é cedo para se dizer algo sobre o real.

 

Mesmo que o BC leve a Selic para 10% em 2012, ou ainda neste ano, a taxa ainda é excessivamente maior do que as praticadas fora do Brasil. E isso mantém a arbitragem.

Mais importante que isso, diz Perfeito, a política de austeridade fiscal proposta pela Fazenda, mesmo que não seja colocada em prática na íntegra, sinaliza melhores condições das contas públicas. "É bem provável que alguma agência de classificação de risco melhore o rating do Brasil antes do fim do ano. Melhor rating, risco menor, e risco menor somado a taxa de juros elevada pode resultar em mais valorização do real", diz.

Eduardo Campos é repórter

 

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